Fazenda São Luiz

“Você precisa ser a mudança que quer ver no mundo” – Gandhi

FAZENDA SÃO LUIZ

A Fazenda São Luiz localiza-se entre os municípios de São Joaquim da Barra e Morro Agudo, nordeste do estado de São Paulo. No início do século passado era o núcleo de uma Fazenda de café muito importante na região. Suas benfeitorias, armazéns, tulha, terreiro de café, marcenaria, serraria, casas de colônias, moinho e usina hidroelétrica, retratam bem esse momento histórico. É uma fazenda familiar, que passou por várias gerações. Hoje a Fazenda tem 400 hectares e vem realizando uma transição agroecológica desde 1997. Temos áreas de produção de grãos orgânicos entremeadas por faixas arbóreas, áreas de Agrofloresta, com produção de café, banana, mandioca, milho, verduras e frutas junto às árvores nativas, e ainda produz cana-de-açúcar no sistema convencional. Nosso processo de transição para uma agricultura mais ecológica e tropical inclui árvores, biodiversidade e um resgate da relação das pessoas com a cultura da agricultura se dá a cada dia, de semente em semente…

A geração atual traz uma proposta de relação com a terra baseada na ética com todos os seres deste planeta, responsabilidade com o presente e o futuro da nossa terra, gratidão por tudo o que a terra nos oferece, e valorização a todos colaboradores que participam de cada etapa deste grandioso trabalho.
A Fazenda São Luiz está conectada a diversas ações em rede na região e em nível nacional, sempre apoiando os parceiros da agricultura familiar e as ações que dialogam com nossos ideais.

UM BREVE HISTÓRICO DA FAZENDA SÃO LUIZ

A Fazenda São Luiz é um retrato de um processo histórico que se iniciou no final do século XIX e que continua em curso. Naquele período, com a decadência do ciclo das Minas Gerais, do ouro e das pedras preciosas, dois casais saíram do sul de Minas em direção ao Estado de São Paulo a procura de terras, riquezas e de outras atividades econômicas. Após conhecerem bem a região, tido como um sertão* na época, eles se estabeleceram às margens do córrego Rosário, hoje Fazenda Invernada, e começaram a ocupação deste território.
*Sertão aqui entende-se por um lugar primitivo, longe da civilização e com a vegetação nativa em pé.
Rodrigo Junqueira, atual guardião da Fazenda, é a sexta geração de sua família nestas terras. Seu bisavô, Marico, veio tomar conta de sua herança aos dezessete anos de idade. Eram mais ou menos 6000 alqueires de terra (1 alqueire = 24.200m2). Esta terra era coberta de florestas – Cerrado, Cerradão e Mata estacional semidecídua. Depois de um início de subsistência, através da caça, leite e criação de porcos, iniciou o plantio de café anos depois, em 1910. Em 1919 mudou-se para a nova sede da Fazenda (hoje Fazenda São Luiz), em virtude da melhoria da moradia com água encanada, mais tarde energia elétrica (fruto de geração obtida na cachoeira). Nesta ocasião, 1922, ficou pronta a construção do complexo cafeeiro que consiste no terreiro para secagem dos frutos, a tulha para o armazenamento dos grãos secos, e das máquinas para beneficiamento e limpeza do grão para ensacamento. Além destas construções foram erguidas a serraria, para trabalhar as madeiras para as construções, galpões, currais e casas para os colonos habitarem. Uma marcenaria foi feita junto à forja para o feitio de rodas dos carroções e carroças, implementos de tração animal, e porteiras. Um moinho movido a água para fazer o fubá e beneficiar o arroz. Uma usina hidroelétrica para aumentar a capacidade de trabalho das máquinas e para as moradias. Uma verdadeira “cidade” quase auto-suficiente, que no seu auge teve aproximadamente 1000 pessoas morando em casas com quintais cortados por água corrente, escola, médico, e até cinema. Nesta época a Fazenda recebeu muitos imigrantes de diversos lugares do mundo: Itália, Japão, Portugal, etc.
Todo este empreendedorismo naquela época nos dá uma noção de grandeza, dedicação, trabalho, determinação e força econômica que foi a cafeicultura que transformou esta região.
Após a era do Sr. Marico, a Fazenda foi dividida entre seus 9 filhos. O mais velho (Sr. Nelson Rezende Junqueira, avô de Rodrigo), ficou com a sede, e os outros construíram as suas próprias sedes. Outros ciclos agrícolas se sucederam: algodão, milho, soja e cana-de-açúcar, além de outros cultivos para própria alimentação. A criação de gado sempre permeou estes ciclos mais importantes, como a criação de cavalos e burros para trabalho e lazer. Uma mudança de profunda importância foi a relação de trabalho, passando por colonato, meeiro, empregados e agora até a terceirização de serviços. É a soma de fatores que provoca mudanças. Se em meados do século passado muitas pessoas moravam no meio rural atraindo atividades artesãos, trabalho, convívio social, festas, hoje o campo está vazio socialmente, e culturalmente se perdendo ao longo do tempo.

A FAZENDA SÃO LUIZ NA NOVA GERAÇÃO

A Fazenda São Luiz é fruto de um trabalho de muitas gerações que sempre tiveram muito amor e vínculo à terra. Cada geração em seu tempo e movido por seus princípios construiu o que hoje é este espaço que se transformou em um espaço educador. Um espaço de experiências, de aprendizado, um ponto de encontro de pessoas buscando respostas para a coexistência harmônica do ser humano no planeta. Um ponto de luz!
“O que nos move é a ideologia: Queremos deixar um legado para as futuras gerações, deixar o ambiente melhor do que o que encontramos, gerar abundancia e riqueza, trabalhar pela agricultura da vida e não da morte, respeitar todos os seres do planeta com suas funções, amar incondicionalmente, ser éticos com as pessoas e com a natureza e todos os seres.
Junto aos valores e princípios, é importante ser economicamente viável, socialmente justo, culturalmente adaptado. Buscamos construir o conhecimento junto às pessoas e grupos para elaborar tecnologias e sistemas realmente sustentáveis, social e ambientalmente. Para nós é muito importante a busca por formas harmônicas e sustentáveis de se estar na Terra”. Rodrigo Junqueira e Denise Amador.
É com esta filosofia que a Fazenda São Luiz incorpou em suas atividades a Educação ambiental. Por toda a potencialidade que a Fazenda São Luiz apresenta, com seus patrimônios histórico e natural valorizados, e por acreditarmos na educação como transformadora de atitudes e valores, realizamos o Projeto Arte na Terra, que visa trabalhar a educação ambiental através de experiências e vivências monitoradas e o contato das pessoas com a terra.
Hoje somos Fazenda São Luiz, com toda a perspectiva e trabalho de transformação das atividades e das relações, transformando e cuidando deste ambiente; somos Arte na Terra aglutinando um grupo de educadores e recebendo muitos grupos para vivenciarmos juntos os ciclos da natureza; e somos Mutirão agroflorestal unindo e conectando as pessoas em torno da agrofloresta e a irradiando para o mundo.

ATIVIDADES ECONÔMICAS DA FAZENDA SÃO LUIZ

A Fazenda hoje ainda produz cana de açúcar, que representa o modelo econômico da região. Como olhamos para o futuro, trabalhamos a paisagem agrícola como um organismo onde plantamos quebra ventos, corredores agroflorestais ligando fragmentos de florestas e faixas diversificadas entre os talhões de cana. Nesta transição agroecológica, os sistemas agroflorestais mais diversificados representam a agricultura mais tropical e ecológica da fazenda. A criação de gado de cria traz uma integração maior com o ambiente e integra a pecuária com a agricultura orgânica. Uma área de 20 hectares está destinada à produção de grãos orgânicos, não transgênicos, com rotação entre soja, milho, sorgo e adubos verdes. O aprendizado sobre o funcionamento das florestas locais nos fornece como um dos resultados, sementes de muitas árvores nativas. Estas atividades integradas e associadas ao patrimônio histórico e natural fez germinar o trabalho de educação ambiental realizado na Fazenda, o Projeto Arte na Terra.

AGROFLORESTA NA FAZENDA SÃO LUIZ

“O ser humano é parte do sistema inteligente e não o ser inteligente” Ernst Götsch

A Agrofloresta sempre fez muito sentido para nós desde que a conhecemos: biodiversidade, terra coberta, árvores promovendo um ar condicionado natural, infiltração da água no solo, ciclagem de nutrientes, madeira em transformação… Parece que é mesmo o que há de melhor para a agricultura tropical, neste nosso clima quente e de chuvas muito fortes. Conhecer a Agrofloresta e se encantar por ela não é difícil, logo quem conhece e tem sensibilidade, se apaixona por esta forma de fazer agricultura e participar do ambiente, se reconectar à terra. Temos um aprendizado a construir, porque não temos receitas, cada lugar tem suas características, cada pessoa tem seus conhecimentos, gostos e afinidades. Buscamos valorizar nossa Biodiversidade e aproveitar o potencial alimentar das plantas nativas como o jatobá, o baru, a macaúba, a lobeira e tantas outras plantas nativas.
Em 1997, junto ao Grupo Mutirão agroflorestal que neste momento se formava, foi plantada a primeira área de Agrofloresta na Fazenda para a restauração de uma Mata Ciliar. De lá para cá, muitas áreas foram implantadas com diversos objetivos e métodos, sempre em experimentação e aprendizado, com a certeza de contribuir para o desenvolvimento de uma tecnologia importantíssima para a agricultura tropical sustentável. Com o acúmulo de aprendizados, entre erros e acertos, ao longo destes 23 anos, a Fazenda tem recebido diversos grupos visitantes para conhecer as experiências e aprender fazendo, com a metodologia dos mutirões para integrar gente e natureza e, assim, gerar conhecimentos e observações em grupo.